Sete Princípios, Um Propósito: Como as Cooperativas de Crédito Transformam Comunidades

Introdução

As cooperativas de crédito têm se destacado como um modelo de inclusão financeira e desenvolvimento econômico que vai além das fronteiras do sistema financeiro tradicional. Fundamentadas em sete princípios sólidos, essas organizações não apenas fornecem serviços financeiros, mas também promovem um impacto social profundo nas comunidades em que operam. Em 2023, o crescimento do cooperativismo de crédito, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, demonstrou o potencial dessas instituições em transformar realidades.

1. Adesão Livre e Voluntária

O princípio da adesão livre e voluntária garante que qualquer pessoa, independentemente de sua origem, possa se tornar membro de uma cooperativa de crédito. Isso é particularmente significativo em regiões onde o acesso a serviços financeiros é limitado. Em 2023, a região Norte do Brasil registrou um crescimento impressionante de 25,8% no número de cooperados pessoa física, destacando-se como a região de maior expansão nesse aspecto[1].

[1] Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo. Disponível em https://www.bcb.gov.br/content/estabilidadefinanceira/coopcredpanorama/relatorio_panorama_cooperativas_2023_FINAL.pdf

Esse aumento reflete o papel fundamental das cooperativas de crédito em proporcionar acesso financeiro a populações tradicionalmente excluídas, oferecendo não apenas serviços bancários, mas também um senso de pertencimento e participação comunitária.

2. Gestão Democrática

Nas cooperativas de crédito, cada membro tem voz ativa nas decisões, independentemente do valor de sua participação financeira. Esse modelo de gestão democrática é vital para garantir que as decisões sejam tomadas em benefício de todos os membros. O envolvimento dos membros na formulação de políticas e na governança das cooperativas fortalece a confiança na instituição e promove a transparência.

Essa abordagem democrática se mostrou especialmente eficaz em tempos de crise, quando as cooperativas conseguem responder rapidamente às necessidades de seus membros, ajustando políticas e oferecendo suporte financeiro de maneira mais ágil e personalizada.

3. Participação Econômica dos Membros

Os membros das cooperativas de crédito participam ativamente do capital da organização e compartilham os resultados financeiros, o que fortalece a economia local. Em 2023, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC) registrou um crescimento de 23,9% em seus ativos totais, alcançando R$730,9 bilhões. Esse crescimento foi impulsionado em grande parte pelas operações de crédito voltadas para micro e pequenas empresas, especialmente na região Norte.

Esse aumento nos ativos não só fortalece as cooperativas financeiramente, mas também permite que elas reinvistam nas comunidades, apoiando iniciativas locais e promovendo o desenvolvimento econômico sustentável.

4. Autonomia e Independência

As cooperativas de crédito são autônomas e independentes, mesmo quando firmam parcerias ou acessam capital externo. Isso garante que as decisões sejam sempre tomadas com o foco nos melhores interesses dos membros, mantendo a integridade e os princípios cooperativos.

A independência das cooperativas é crucial para sua sustentabilidade a longo prazo, pois permite que elas se adaptem rapidamente às mudanças no ambiente econômico e financeiro, sem depender de diretrizes externas que possam não refletir as necessidades locais.

5. Educação, Formação e Informação

A educação e a formação contínua são fundamentais para o sucesso das cooperativas de crédito. Essas instituições investem na capacitação de seus membros e colaboradores, garantindo que todos estejam preparados para tomar decisões financeiras informadas e contribuir para o desenvolvimento da cooperativa. Em 2023, a adoção de tecnologias como a inteligência artificial foi um marco significativo, especialmente na região Norte, onde essas inovações ajudaram a personalizar os serviços e melhorar a eficiência operacional.

A educação financeira também é um pilar importante, capacitando os membros para gerenciar melhor suas finanças pessoais e empresariais, o que, por sua vez, contribui para a estabilidade econômica da comunidade.

6. Intercooperação

A cooperação entre cooperativas fortalece o movimento cooperativo como um todo. Em 2023, a região Norte se destacou com um crescimento de 12,6% no número de unidades de atendimento, mostrando como a intercooperação pode expandir o alcance das cooperativas e melhorar o acesso a serviços financeiros em áreas remotas.

Essa expansão das unidades de atendimento reflete o compromisso das cooperativas de crédito em atender às necessidades das comunidades, garantindo que todos tenham acesso a serviços financeiros de qualidade, independentemente de sua localização geográfica.

7. Interesse pela Comunidade

As cooperativas de crédito são profundamente comprometidas com o desenvolvimento sustentável das comunidades onde operam. Esse compromisso é evidente nos investimentos em projetos que promovem a inclusão social, a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico. Em 2023, o número de municípios atendidos exclusivamente por cooperativas de crédito aumentou para 368, reforçando o papel dessas instituições como agentes de inclusão financeira.

As cooperativas de crédito não apenas fornecem serviços financeiros, mas também desempenham um papel ativo na construção de comunidades mais fortes e resilientes, promovendo o bem-estar social e econômico.

Conclusão

Os sete princípios que fundamentam o cooperativismo de crédito são mais do que diretrizes operacionais; eles são a espinha dorsal para a construção de comunidades financeiramente inclusivas, justas e sustentáveis. Por meio da participação democrática, do engajamento econômico e do compromisso com a educação contínua, as cooperativas de crédito têm comprovado sua capacidade de transformar realidades, especialmente em regiões onde o acesso a serviços financeiros era escasso. Este crescimento constante e a contribuição decisiva para o fortalecimento das economias locais reforçam a relevância dessas instituições no cenário econômico.

Olhando para o futuro, o cooperativismo de crédito se posiciona como um pilar essencial para o desenvolvimento econômico sustentável, demonstrando que, ao unir valores sólidos com inovação e resiliência, é possível construir uma sociedade mais equitativa e próspera para todos.

* Adriano Henrique Coelho é Sócio da MBT Advogados Associados, atuando como Gestor do Núcleo de Recuperação de Crédito e Cooperativismo. Com um MBA em Direito Civil e Processual Civil pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), exerce também a função de Professor Titular da disciplina de Direito Processual – Processo de Execução, no Centro Universitário São Lucas Ji-Paraná.