Blog

Patrimônio dos donos da 123milhas pode ser usado para pagar dívidas da empresa?

Advogados explicam qual é a responsabilidade jurídica dos sócios da empresa no caso de recuperação judicial ou de falência da companhia de viagens

Os sócios da 123milhas, os irmãos Augusto Júlio Soares Madureira e Ramiro Júlio Soares Madureira, provavelmente não terão que usar parte do patrimônio pessoal para quitar a dívida bilionária da empresa de viagens que fundaram no fim de 2016, com a oferta de passagens até 50% mais baratas em relação à tabela das companhias aéreas.

Mesmo se o pedido de recuperação judicial feito ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) não for aceito e a empresa tiver que enfrentar um processo de falência, somente o patrimônio da 123milhas poderá ser usado para abater o valor devido aos funcionários demitidos, fornecedores e clientes. A empresa reportou uma dívida de R$ 2,3 bilhões. 

“Nem no caso de falência. Essa questão do patrimônio dos sócios é uma discussão judicial muito grande. No Direito, a gente tem a autonomia da personalidade jurídica. Uma coisa é a pessoa jurídica da 123milhas, outra é a pessoa física com o patrimônio dela. Os negócios praticados pela pessoa jurídica da 123milhas ficam vinculados à empresa. Só atinge o patrimônio dos sócios em caso de falência e se ficar comprovada uma confusão patrimonial entre os patrimônios dos sócios e da pessoa jurídica ou caso haja um abuso da personalidade jurídica, ou seja, se eles usaram de má-fé, de algum tipo de fraude como pessoa jurídica. Aí há possibilidade de atingir o patrimônio dos sócios. Salvo essas hipóteses, a dívida fica vinculada somente à empresa”, explica o advogado especializado em Direito Empresarial e Tributário, Rodrigo Totino, da MBT Advogados Associados.  

E caso os sócios transfiram bens para outras pessoas, durante um processo de falência? Nesta situação, eles podem ter problemas com a Justiça. “Se for comprovada essa confusão patrimonial entre pessoa física e pessoa jurídica, o Judiciário pode decidir por incluir os sócios no caso”. 

Recuperação judicial 

Caso o pedido de recuperação judicial da 123milhas seja aceito pelo TJMG, a empresa terá um período de até um ano para elaborar um plano de pagamento das dívidas e mais dois anos para quitar os valores atrasados com ex-funcionários, fornecedores e clientes. Geralmente, os colaboradores demitidos recebem a quantia total num prazo mais rápido do que os outros credores. Mas isso não quer dizer que eles serão os primeiros a receber algum pagamento.

“Isso acontece só em caso de falência também. A prioridade do crédito trabalhista só ocorre se a empresa parar de funcionar e falir, aí os funcionários com até 150 salários mínimos a receber são os primeiros a serem pagos. Na recuperação judicial, há uma separação dos tipos de crédito. Tem a classe 1, dos credores trabalhistas; a classe 2, dos credores com garantia, geralmente bancos; a 3 engloba os grandes fornecedores; e a 4 inclui fornecedores de pequenas e médias empresas. Cada classe pode ser objeto de uma forma de pagamento diferente. Geralmente, o plano de recuperação judicial prevê o pagamento da classe 1 de forma mais rápida, em menos parcelas. Mas não quer dizer que os colaboradores recebem primeiro. Por exemplo, o que a gente vê em planos de recuperação é que funcionários vão receber em 12 meses, sem deságio, e fornecedores vão receber em 5 anos com desconto da dívida”, explica o advogado Rodrigo Totino. 

E outro jurista recomenda que as pessoas lesadas procurem ajuda profissional, pois cada caso é diferente.   

“É recomendado que trabalhadores, fornecedores e clientes procurem um profissional jurídico de confiança para analisar a sua situação concreta, principalmente por conta de uma possível e futura assembleia de credores que surja neste trâmite. Para este grupo de pessoas, hoje, há mais perguntas e incertezas do que respostas quanto a 123milhas”, afirma Gabriel Viegas, advogado do escritório MP&C – Marcial, Pereira & Carvalho.

Negócios dos sócios da 123 milhas

Os irmãos Augusto Júlio Soares Madureira e Ramiro Júlio Soares Madureira são de uma tradicional família exportadora de café. Augusto mantém uma página no LinkedIn, informando sobre a sua formação como economista pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em 2005.

Ele também revela que seu primeiro trabalho foi como gerente-geral da Fazenda Boa Vista, de 2001 ao início de 2006. Na sequência, foi gerente financeiro da Minas Export, em 2006 e 2007. Atuou ainda como diretor administrativo e financeiro do Café Moka, de 2007 a 2009.

Todos foram negócios controlados pela sua família, produtora e exportadora de café do interior de Minas – em Piumhi, município de 39 mil habitantes. A Minas Export foi vendida para a multinacional americana Sara Lee no começo de 2009 – processo do qual Augusto participou.

Enquanto Augusto se mantinha nos negócios da família, Ramiro apostou nas operações online. O seu envolvimento com a compra e venda de milhas começou com a HotMilhas, em 2006.

Augusto se juntou a Ramiro e, no final de 2016, os dois lançaram a 123milhas para maximizar o negócio, com a oferta de passagens até 50% mais baratas em relação à tabela das companhias aéreas.

A operação cresceu tão rápido que, em 2021, a empresa se tornou o maior anunciante do país, com aporte de R$ 2,37 bilhões na compra de espaço publicitário.

O montante dava direito a globais e astros sertanejos como garotos-propaganda e presença garantida nos “fingers” (corredores que ligam o salão de embarque ao avião) de aeroportos em todo o país.
No ano passado, de acordo com o ranking Agências & Anunciantes, anuário publicado pelo jornal Meio & Mensagem, a 123milhas foi o segundo maior anunciante, com investimentos de R$ 1,28 bilhão.

* (com informações de Daniele Madureira / Folhapress)

Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Email

Contrato de Prestação de Serviços

Os contratos de prestação de serviços desempenham um papel fundamental nas relações empresariais, sendo indispensáveis para assegurar que ambas as partes compreendam e cumpram suas

Ver Mais»